Quando refletimos na relação tecnologia e sociedade logo pensamos em cibercultura, o cenário ciberespaço e a inteligência coletiva.
Atualmente as ferramentas tecnológicas como a multimídia, os dados, textos, imagens, sons, mensagens de todos os tipos são digitalizados e, cada vez mais, diretamente produzidos sob forma digital. Aplicando-se a essas mensagens, os instrumentos de tratamento automático da informação se banalizam no conjunto dos setores da atividade humana. O estabelecimento de conexão telefônica entre terminais e memórias informatizadas e a extensão das redes digitais de transmissão ampliam, a cada dia, um ciberespaço mundial no qual todo elemento de informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um. (LÉVY, 2000, p.03).
A cibercultura é o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de atitudes e práticas de modos de pensamento e de valores que se desenvolve junto com o crescimento do ciberespaço.
O cenário do ciberespaço é construído por Lévy a partir das tecnologias digitais de informação e comunicação em rede, criadas no início dos anos 80, que se tornaram um fenômeno econômico e cultural: redes mundiais de universitários e pesquisadores, redes empresariais, correios eletrônicos, comunidades virtuais e outras. Diante de milhares de centros informatizados no mundo, a Internet tornou-se o símbolo desse novo meio e comunicação e produção cultural: “em 1994, mais de 20 milhões de pessoas, essencialmente jovens, estavam ‘conectados’”. Nesse sentido, poderíamos estar vivendo um desses momentos extremamente raros em que uma civilização inventa a si própria, deliberadamente (p. 60), por isso o autor considera. “urgente destacar os aspectos civilizatórios ligados ao surgimento da multimídia: novas estruturas de comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação das relações de tempo e espaço etc.(...)”. (LÉVY, p.13, destaques, no original).
Em muitos artigos, estudos e a imprensa no que dizem respeito ao desenvolvimento da multimídia fala-se muitas vezes no impacto das novas tecnologias da informação sobre a sociedade ou a cultura caracterizando em uma metáfora onde a tecnologia seria algo comparável a um projétil (pedra, obus, míssil) e a cultura ou a sociedade um alvo vivo; que para Lévy essa metáfora do impacto é inadequada.
Como certa tradição de pensamento tende a sugerir as técnicas viria de outro planeta, do mundo das máquinas, frio, sem emoção, trazendo estranheza a toda significação e qualquer valor humano. Mas para Lévy ao contrário dessa linha de pensamento que não somente as técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas durante seu uso pelos homens como também é o próprio uso de ferramentas que constitui a humanidade.
Lévy defende a técnica como um ângulo de análise dos sistemas sócio-técnicos globais onde seria impossível separar o humano de seu ambiente material como dos signos das imagens por onde atribuímos sentido a vida e ao mundo e muito menos de sua parte artificial das idéias onde são concebidos e utilizados os objetos técnicos. E mesmo supondo que estão três entidades: técnica cultura e sociedade em vez de enfatizar o impacto das tecnologias Lévy descreve que poderíamos pensar igualmente que as tecnologias são produtos de uma sociedade e de uma cultura.
As técnicas carregam consigo implicações sociais e culturais variados e sua presença e uso em lugares e épocas determinou sempre a relação de forças diferentes entre os seres humanos desde o inicio da industrialização até as mudanças que afetaram o universo digital após o ano 2000 com o aumento do ritmo tecnológico o aumento da capacidade de memória e de transmissão e as novas invenções interfaces e softwares, traduzindo os conteúdos das antigas mídias para o ciberespaço.
Lévy compreendia que a tecnologia não é nem boa, nem má dependendo do contexto, do uso e do ponto de vista, nem tampouco neutra já que é condicionante ou restritiva ao abrir e fechar as possibilidades. Não se trata em avaliar seus impactos, mas de estabelecer irreversibilidades que levaria um de seus usos que os projetos técnicos transportam para se decidir o que fazer dela.
O ciberespaço, dispositivo de comunicação interativo e comunitário apresenta-se como um dos instrumentos excepcionais da inteligência coletiva.
Segundo Lévy a inteligência coletiva se inicia com a cultura e cresce com ela. Junto com ela as idéias, línguas, tecnologias cognitivas recebidas de uma comunidade. E é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada e mobilizada em tempo real, que implica na valorização técnica, econômica, jurídica e humana de uma inteligência distribuída por toda parte, a fim de desencadear uma dinâmica positiva de reconhecimento e mobilização das competências. (LÉVY, 2000, p.09).
Assim como o nosso ensino a distância que desenvolvem sistemas de aprendizagem cooperativa em rede, facilitando a comunicação, o compartilhamento de informações e observações em conferencias eletrônicas. Assim o ciberespaço como suporte da inteligência coletiva é uma das principais condições de seu próprio desenvolvimento sob a sua auto-manutenção da revolução das redes digitais que são influenciadoras da tecnotopia.
A tecnotopia, caudatária da ideologia do progresso e de uma visão evolutiva da história da tecnologia, especialmente a partir da Revolução Industrial é hegemônica e, neste momento de crises de utopias, é, em larga medida, o grande metarrelato salvífico do mundo contemporâneo; tecnotopia que pode ser classificada como a promessa salvífica utópica ou prometeicos. E evolui na medida em que o homem e o capitalismo evoluem, pois não seriam possíveis os grandes saltos na medicina na era digital, na educação, na historia e na cultura sem os avanços tecnológicos.
O homem não chegaria à lua se não por meios tecnológicos, a medicina teve grande progresso com instrumentos e máquinas que facilitaram a cura à prevenção de doenças; a não se falar da informação que a tecnologia facilitou no nosso cotidiano que acredito ser uns dos maiores acressímos.
A tecnotopia é o lugar onde os "indivíduos" ordenam informações para quaisquer propósitos que queiram e para encontrar outros com os quais combinem para perseguir tais propósitos. Como Bill Gates descreve isso é "algo fortificante". A tecnotopia é a sedução pela fantasia da "fortificação", o centro do complexo possessivo individual contemporâneo. Disponibilizando qualquer informação que se necessite instantaneamente e sem esforço e, estando ligado aos associados, poupando tempo e energia, além de facilitar a tomada de decisões; fornece apenas àquilo que você solicita e nada mais.
Com esse bombardeio de informações podemos encontrar na internet todo tipo de arquivo a respeito do que se está procurando auxiliando nos estudo, no trabalho, na pesquisa e nos afazeres do dia a dia além da diversão e da interação social que a tecnotopia proporciona com chats, fóruns, sites de relacionamentos,jogos,entretenimentoetc. Nos alunos da UAB-UNB nos privilegiamos dessa tecnologia fazendo parte de uma rede on-line de estudo de uma universidade à distância, compromissada com a educação trazendo oportunidade assim estabelecendo relações e promovendo interação social, assim podemos adquirir conhecimento e vivenciando novas experiências dentro da Cibercultura.
Essas novas tecnologias também podem desencadear não apenas a tecnotopia, mas também a tecnofobia, marcada pela desigualdade da distribuição sócio-política-econômica do acesso à tecnologia e por um imaginário onde co-habitam discursos alternativos ou cosmologias mágico-religiosas com seus demiurgos, é, em geral, relegada a um segundo plano, mas, ocasionalmente, sobretudo quando o homem parece querer brincar de Deus, reúne energias com poder normativo e regulatório. Para entendermos as características da tensão entre tecnotopia (a promessa salvífica utópica) e tecnofobia (o temor escatológico distópico).
A tecnofobia é a rejeição a tecnologia, mais do que isso é um sentimento de impotência diante da máquina, como se o computador assumisse uma posição de destaque, culminando em um medo de mexer no teclado e eventualmente provocar algum dano irreversível. Porém diante de tantas dificuldades, essas pessoas podem se sentir excluídas de um mundo cada vez mais cibernético.
Esse fator excludente da cibercultura vem sendo cada vez menos justificados, pois o acesso será cada vez mais barato se apoiados pelos governos encorajando a concorrência entre fornecedores de acesso e operadores de telecomunicações sendo a baixar suas tarifas de assinatura além dos procedimentos de acesso e de navegação ser cada vez mais amigáveis e simples.
Devido os aspectos descompartimentalizantes, emancipador, participativo e socializante a inteligência coletiva proposta pela cibercultura pode significar ao mesmo tempo um remédio acelerando o ritmo da alteração tecno-social e um veneno para aqueles que não a praticam, pois tende a excluir aqueles que não entraram no ciclo positivo da alteração, de sua compreensão e apropriação.
Quando Lévy descreve que o desenvolvimento da cibercultura poderia ser um fator de desigualdade e de exclusão, tanto entre classes sociais como entre nações de paises ricos e pobres é pelo fato de que o acesso ao ciberespaço exige infra-estruturas de custo elevado (computadores) e sua manutenção de centros de servidores necessita de investimento considerável para regiões em desenvolvimento. Para garantir o acesso é preciso superar os obstáculos humanos e institucionais, políticos e culturais construindo uma comunicação comunitária interativa. E ainda ultrapassar o sentimento de incompetência e de desqualificação diante as novas tecnologias.
Lévy afirma que o ciberespaço permite e facilita cada dia mais encontrar pessoas por temas de interesse endereços pessoais favorecendo os espaços virtuais independentemente das barreiras físicas e geográficas. E a cibercultura inventa uma outra forma de fazer advir a presença virtual do humano frente a sim mesmo que não pela imposição da unidade de sentido; não é uma subcultura dos fanáticos pela rede, mas sim por expressar uma mutação fundamental da própria essência da cultura.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 1 ed. São Paulo: editora 34 Ltda, 1999.
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3.ed. São Paulo: Loyola, 2000.